Peguei a chave, tranquei a porta por fora e fui direto para o celta que meu pai deixava na garagem para eu usar quando estava atrasada para o colégio. Sem ele em casa eu com toda certeza aproveitaria desse luxo que ele não disse que iria me proibir. Achei isso bom, mas mesmo assim, preocupei-me, meu pai era tão cuidadoso comigo, não poderia me deixar assim, mas deixei que isso passasse despercebido em minha mente. Concentrei-me nos buracos da rua da Pâmella. Que estrada sinuosa, nunca dirigi em um lugar mais esburacado do que essa rua. Soltei um pouco de blasfêmias, mas logo me segurei e concertei minha expressão, eu teria que parecer feliz ao encontrá-la. Estacionei em sua calçada, e sai olhando a rua e vendo a lama que ia se formando na parte abaixo do carro. Não sei como, mas Vi notou o barulho em sua calçada e já estava na porta com seu grande sorriso por ver que eu realmente iria ajudá-la.
-Oi Vi! -Fechei a porta e fui de encontro a ela
-Oi Liz! -ela me deu seus dois beijinhos costumeiros e apontou para dentro da casa.
-Entra..
-Claro, já ajeitou toda a matéria?
-Sim sim.
A casa da Vi era algo com que eu não me acostumava. Era grande, e linda, toda rústica, móveis, quadros, a escada, cada item mais bonito que o outro. Eu sempre ficava impressionada com tamanha grandeza daquela casa. Ela sempre me guiava, e eu certamente, sempre me perdia. Ela estava de bermuda também, embora a dela fosse de um tecido mais pesado e mais claro que a minha, tava com sua camisa preferida, de gola alta e rosa listrada, enfim, linda como sempre.
-Liz, tem novidades?
-Bom, estou sozinha em casa até quarta, meus pais sairam pra resolver uns problemas na cidade. -Ela era amiga, mas eu nunca confiei muito, sempre fui desconfiada.
-Sério? Que boom! Quer dizer, perfeito pra hoje, com toda certeza.
-Porque? -Minha desconfiança sempre vinha à tona.
-Hoje tem uma festa pública lá na praça perto do colégio, achei que você fosse... disseram que vai ta cheia. -Traduzindo: Pegação total!
-Ah, verdade, a festa, você comentou comigo. Quer ir? -Não tenho nada pra fazer hoje nem o resto da semana, eu queria acrescentar, mas achei melhor não.
-Quero né amiga, vamos depois de estudarmos, temos muuuita coisa pra ler e fazer.
-Claro.
Fomos para a sala, estava tudo impecavelmente limpo e arrumado, bem no meio da sala tinha uma mesa retangular antiga envernizada, por cima tinha um bordado longo que atravessa o meio da enorme mesa. Todo material estava espalhado e então respirei fundo pus mão a obra. Ela realmente não estava bem em português, então acabei me divertindo com suas explicações malucas do que ela entendia quando a professora falava, a expliquei tudo corretamente, e com a diversão fui perdendo a noção da hora. Vi já tinha ligado o ar-condicionado e tinha fechado as janelas então não passava claridade alguma. Acabamos de estudar, passei uma leve revisão para ela estudar sozinha e ficamos conversando, conversamos sobre tudo. Por mais que ela já soubesse muita coisa minha, eu sabia pouco sobre ela. Então eu aproveitava para saber mais sobre a vida que ela levava antes de parar aqui. Soube bastante coisa, mas tudo completamente irrelevante, então quando eu olhei a hora, já eram sete e meia da noite, eu nunca cheguei mais tarde em casa do que seis hora da tarde. Ela riu vendo minha reação, eu ri junto com ela, afinal eu estava sozinha.
-Vi, vai se arrumar agora?
-Vou sim, vai escolher alguma roupa minha lá pra você.
-Não! Eu vou pra casa e volto pra te buscar.
-Claro que não! Deixa de bobeira Lizzie, vai lá e pega.
Ela tinha um tom tão autoritário que eu odiava, mas parei para pensar e achei que ia ser melhor. Ela foi direto para o banho e eu fui encontrar uma roupa. Achei uma saia de cinura alta, preta e justa, combinava com minha cor clara e deixava minhas pernas à mostra, o que eu gostava. Achei também uma blusa creme tomara-que-caia que combinou perfeitamente com meu busto, realçava bem. Eu gostei. Botei um saltinho pequeno e fiquei pronta. Vi também se arrumou rápido, pegou um casaco branco, botou por cima de uma blusa preta com detalhes rosa, e uma calça skining com um salto fino mais alto que o meu. Ela ficou do meu tamanho. A noite caindo lá fora já estava fria, mas eu nunca senti tanro frio assim. Vi brincava de vez em quando dizendo que eu tinha um sangue fervendo dentro de mim. Eu entendia o que ela queria dizer, mas eu nunca fui muito boa com garotos, eles nunca se aproximavam, e eu não me encomodava com isso, levava minha vida muito bem obrigada.
Enfim, saimos de casa, a mãe da Vi não estava em casa, tinha ido na casa do novo namorado. Ela tinha me dito que o namoro estava engrenando e que pelo visto tinha um grande casamento a vista. Mas isso não vem ao caso. Pegamos então o caminho que dava para o colégio e viramos uma rua antes, lá estava a praça.
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