Andava meio de lado, um tanto reservado, como quem não quer se deixar levar. Sabia o que acontecia a sua volta, porém resolveu que não ia se importar com isso. Achava que era auto suficiente e que podia viver sozinho. Não pedia ajudas. Não conhecia a verdade. Não o conhecia. Então, num lugar profundo, encontrou-se. Era ali, com toda a insanidade do seu coração que ele queria estar. Afinal, seu comportamento o levara ali. Sabia o que queria. E como um pássaro que resolve perder o medo de cair, ergueu suas brilhantes asas e voou. Voou pelas palavras, pelas cordas. Ali, numa cabana intocada, cheia de musgos e lembranças. Uma cabana que não o dizia nada, mas o fazia alguém um pouco mais livre. Fazia-o não apenas um simples de espírito, mas como alguém que finalmente se encontra e não tem medo. Então foi ali. Na cabana intocada. Um piano. Um dom. Uma voz. Uma canção. Um amor. Voou pelas palavras, como se nunca as tivesse cantado. Voou por todas aquelas cordas, que cantavam com ele a alegria de saber o que se espera da vida. Voou por todas aquelas partes, as boas e as ruins. Sabia que teria de limpar todo aquele musgo que se infiltrou durante seus devaneios. E assim o fez. Livrou-se de todo mal. Saiu de lá. Andava meio imponente, porém com um sorriso estampado no rosto, como quem sabia em que se entregar. Importava-se com as pessoas. Sabia que necessitava das suas palavras, e principalmente de seus conselhos. E passou a se encontrar todos os dias, na mesma cabana intocada. Na mesma leveza da mansidão daquela canção. Todos os dias. E todas as noites.
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