Peguei a minha mala. Já estava praticamente pronta. Olhei em volta e recordei daquilo que construí ali. Senti um aperto no coração. Desejei tanto sair da casa de minha mãe quando a minha estivesse pronta, mas nunca pensei que seria tão difícil e tão... Complicado. Minha mãe estava no trabalho e eu fiquei de folga propositalmente para poder arrumar minhas coisas sem que ela visse, eu queria poupá-la disto. Minha casa, estava limpa a minha espera. Inconscientemente eu evitei sair de lá, e cheguei ao ponto de querer botar primeiro os porta-retratos antes de me mudar. A casa ficou do jeito que eu bem queria, mas o aconchego que a casa de minha mãe trazia junto das lembranças eram algo que não haveria como explicar. Não sei exatamente como dizer adeus às minhas lembranças. Olhei para a cama. Lembrei de quantas noites minha mãe passou em claro, preocupando-se com meus pesadelos. Olhei para a louça e lembrei de muitas brigas por causa de copos e pratos e xícaras quebrados. Olhei para o fogão e lembrei quando fizemos meu primeiro arroz. Voltei para a cama, lembrei de quando pulava contente por ter minha própria cama elástica emprovisada dentro de casa. Olhei o som, ao lado na cabeceira, e lembrei de quantas coreografias que fiz quando estava sozinha. Vi a TV e lembrei dos programas de domingo que assistia no sofá com minha protetora. O sofá me trazia a lembrança do primeiro namorado que levei para conhecê-la, e como eles pareciam se divertir as minhas custas. A pintura mal feita no canto da sala lembrava os momentos tão intensos e divertidos que passamos juntas. Olhei para a escada e lembrei de quando era criança e ela me mandava ir rápido tanto quando ela queria e ensinar, mesmo me batendo, quando queria que eu corresse para ver o meu mais novo presente. Um deles, foi tão decisivo em minha vida que apenas me lembro do momento em que o vi: meu primeiro computador. E sempre foi ela. E mais ninguém. Quem me deu a luz, quem me amou, quem me ensinou a ser alguém, quem disse as palavras tranquilizadoras, quem disse as palavras rudes que tanto me ensinaram. E assim, hoje, saio de sua casa, deixando todas as lembranças e levando tudo aquilo que ela me deu, que eu tenho certeza que foi tudo o que ela tinha. Por tudo isso, minha mãe sempre será meu exemplo de pessoa, de cidadã, de escritora, de cantora, de dançarina, de coreógrafa, de amiga, de irmã, de conselheira, de MÃE !
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